ENTREVISTA: “O racismo estrutural implementado é uma chaga que vai ficar marcada por muito tempo na sociedade”
No mês da Consciência Negra, o Sindiserv lançou a cartilha de combate ao racismo no serviço público. O documento foi desenvolvido e publicado em novembro pelo sindicato e segue sendo entregue nos locais de trabalho. Além de poder ser lida no site da entidade, ela traz reflexões sobre o antirracismo no cotidiano e apresenta, de forma didática, conceitos essenciais como racismo estrutural, institucional e a importância das políticas públicas.
Conforme o Diretor Suplente de Diversidade do Sindiserv, João Antônio Ferreira, além de orientar sobre como identificar e compreender essas práticas, a cartilha destaca ações afirmativas e propostas concretas para enfrentá-las. Ela reforça que o combate ao racismo exige não apenas denúncia, mas construção de alternativas. Bem estruturada e cuidadosamente elaborada, a iniciativa reafirma o compromisso da entidade com a superação das barreiras que impedem a plena evolução das pessoas”.
O Corrente conversou com o sindicalista sobre os temas ligados ao racismo e seu combate.
O Corrente: Qual reflexão é necessária fazer, em especial, no dia 20 de novembro?
João: Refletir sobre o Dia da Consciência Negra, é refletir a respeito de um povo escravizado que ao longo dos séculos teve seus direitos negados e hoje, livre do açoite da senzala, preso na miséria da favela, o 20 de novembro faz uma reflexão sobre as ações que devem ser implementadas em defesa do povo negro. Lutar contra o preconceito racial, a discriminação racial, todo o espectro do racismo estrutural, é tudo isso que todo dia, toda hora, o negro tem que trabalhar, lutar e persistir. Lutar sobre a questão racial é sempre algo que mexe com a estrutura emocional do negro porque a consciência negra está todo dia, toda hora sendo uma mola propulsora para que o negro levante, lute e lute cada vez mais por espaços dentro da sociedade.
O Corrente: Como é vivenciar a discriminação em 2025?
João: Se vivencia todo dia, de todas as formas, o processo de discriminação nessa sociedade em 2025. Ora é negado o direito de acesso à saúde, à educação, ao lazer. O negro, quando ele tem que trabalhar, é sempre dobrado para mostrar que tem qualidade de estar naquele espaço na busca de melhores condições. Seu emocional tem que estar sempre estruturado, porque ele é acometido de questões, não só a questão psíquica, mas também outras doenças. Precisa-se que seja feito investimentos na questão da saúde da população negra, onde todos os locais, todas as unidades básicas de saúde, tenham pessoas que possam garantir essa situação através de atendimento específico.
O Corrente: Como as pessoas veem a questão do racismo na nossa sociedade atualmente?
João: O racismo estrutural se deu mais fortemente ao longo do tempo das décadas. Vem havendo uma diminuição desse processo. Isso porque outras pessoas estão se engajando nessa luta de combate ao preconceito racial e ao racismo estrutural. Então, a partir da criação das cotas para ingresso no serviço público, para ingresso nas universidades, possibilitou um andamento, um crescimento, uma evolução do povo negro, dos negros, dos jovens negros nas universidades. Então, saiu um pouco dessa marginalidade que antes era impingida e hoje, com a autodeclaração do povo negro, para as pessoas também de pele clara se dizer a favor da luta antirracial, é muito importante. Houve um avanço, mas precisa avançar ainda muito mais na questão racial, no combate à discriminação racial. O racismo estrutural implementado é uma chaga que vai ficar marcada por muito tempo na sociedade
O Corrente: Como quebrar isso?
João: Para vencer essa questão do racismo estrutural, é necessário que o governo implemente ações que possam possibilitar a inclusão no mercado de trabalho, a inclusão nas universidades, para que as pessoas possam ter consciência do seu poder de luta. Então é importante que os governos, tanto estadual, municipal e federal, implementem ações e afirmações políticas públicas que possam estar valorizando, qualificando a população negra.
O Corrente: Como o sindicato tem trabalhado a questão do racismo?
João: Olha, o sindicato tem lutado arduamente, criou a Secretaria de Diversidade, onde abarca a questão do combate ao racismo, ao racismo estrutural, promove debates. Nessa questão da Semana da Consciência Negra, estivemos aqui com a entrega do prêmio aos destaques das pessoas que, no seu trabalho, na sua luta cotidiana, ainda encontram possibilidade de estar trabalhando na transversalidade do racismo estrutural. Então foi introduzido, através do Conselho da Comunidade Negra, o Comune, o prêmio Teixeira Nunes, para aquelas pessoas que se destacaram nas suas atividades dentro da sua comunidade o prêmio racismo contra o racismo.
O Corrente: O que falta aos negros?
João: O que nos falta quanto negros é a possibilidade de mostrar cada vez mais a nossa qualidade e a nossa capacidade. Abaixo ao racismo estrutural. Nós, enquanto dirigentes sindicais, estamos todo dia, toda hora, nesse combate. Essa luta é uma luta que tem que ser de todos. Lutar por nós, contra o racismo e o racismo estrutural.



