Educação necessita de investimentos e resistência

 Educação necessita de investimentos e resistência

Atualizado em 26/05/2023

Seminário de Educação promovido pelo Sindiserv aponta a necessidade de investimento, ambientes colaborativos de aprendizado e luta pelos direitos dos professores e alunos

O Sindiserv promoveu na noite desta terça-feira (24.10) o Seminário de Educação, abordando os desafios e rumos da educação na América Latina e Brasil, por meio das palestrantes, Nilva Rech Stédile e Marta Vanelli. O evento realizado no UCS teatro contou com a participação de cerca de 200 profissionais ligados ao ensino e dirigentes sindicais.

Na abertura do evento, a presidente do Sindiserv, Silvana Piroli, destacou a importância de unificar forças para garantir os direitos dos professores e de uma escola pública de qualidade.

A partir de uma análise comparativa da situação da educação na América Latina, Nilva, apresentou dados que merecem reflexão, no Brasil, apenas 50% dos estudantes que ingressam na pré-escola, concluem o ensino médio. A vulnerabilidade ocasionada pela desigualdade social parece ser o grande causador deste índice, associadas às reformas educacionais sem a participação de gestores e sociedade. “Temos uma forma de gestão autoritária e centralizadora. Para interromper isso precisamos praticar o exercício da cidadania, parece-me que hoje o espaço para discussões é infinitamente menor que em décadas passadas”, analisa.

Entre os estudantes que conseguem chegar ao ensino superior, 49% abandonam os cursos antes da conclusão. “Somos um dos países da América Latina que menos tem jovens no Ensino Superior, perdemos para o Uruguai, Argentina e Chile. Quando falamos em abandono dos cursos não é apenas em perdas no mercado de trabalho, falamos em desenvolvimento de formas de pensamento, de integração social no contexto brasileiro”, aponta.

Os desafios da educação, segundo Nilva, passam pela criação de novas estratégias de ensino, mudanças curriculares, que precisam ser flexíveis e atualizadas, melhorar o perfil do professor e ampliar a cobertura. “Precisamos melhorar a pertinência dos conteúdos para que gerem interesse, pois tem uma ligação direta com a permanência dos alunos em sala de aula”, salienta.

O estímulo às discussões políticas devem ser incentivados em sala de aula e devem contar com o apoio de todos, estudantes e comunidade. “Percebo que as pessoas estão anestesiadas, inertes aos fatos que vêm se apresentando. Precisamos buscar uma melhora no exercício da democracia. Ou seja, colocar à frente as prioridades coletivas”, finaliza.

Integrante da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Marta Vanelli, relatou sobre os passos daa elaboração do Plano Nacional de Educação com dezenove metas. A vigésima meta que previa investimentos buscando a equidade com os países da América Latina, demorou quatro anos para ser aprovada no Congresso. “A obrigatoriedade de educação dos quatro aos 17 anos estava prevista para ser implementada até 2016. Acontece que neste ano, quando deveria entrar em vigor, sofremos um golpe em nosso País, ou seja, todas as políticas especialmente as sociais tiveram uma mudança significativa”, relata.

De 2003 até 2016, a educação passou de 5,3% de representação do Produto Interno Bruto (PIB) para 6,5%, um aumento de 1,2%, somado ao Fundo de Investimento Estudantil (Fies), esse percentual possibilitou a triplicação dos Institutos Federais, construção de novas universidades federais e ampliação de vagas. A meta seria chegar a 10%.

Outro assunto que impactou a educação e trará sérios problemas a longo prazo é Emenda Constitucional 95/2016, que congelou por 20 anos os investimentos e políticas públicas, como saúde e educação. Ao final deste período, a projeção é que o Brasil esteja investindo apenas 4,3% do PIB em educação. “Não teremos como manter os Institutos e programas atuais em 20 anos”, critica.

A reforma do ensino médio também entrou na pauta, diante da escolha do curso técnico com parceria de instituições da comunidade, além de exigir apenas as disciplinas como português e matemática como obrigatórias. “Hoje são 13 disciplinas no Ensino Médio. Onde atuarão os outros professores? Já começaram as contratações de professores terceirizados, ou seja, os direitos estão se esvaziando. Chamamos isso de “Uberização” da educação”, aponta.

A especialista finalizou conclamando para a mobilização para as diversas frentes, seja contra a reforma trabalhista, a terceirização, a reforma do ensino médio e a falta de investimentos. “Precisamos entender que essas medidas são para o mal, o sindicato sozinho não fará isso, precisa de apoio de todos.”

de acordo com a coordenadora do evento, Cristiane Padilha, o evento registrou um panorama da educação brasileira, passando pela comparação com os demais países da América Latina, os reflexos do golpe político, o sucateamento das escolas e a precarização das relações de trabalho. “A lição de casa que nos cabe agora é construir participação e práticas democráticas nas nossas aulas, nas rotinas das escolas e na relação com a sociedade. A luta pela educação de qualidade é de todos e todas e seu sucateamento atinge a população indiscriminadamente, daí a necessidade da retomada de seu caráter coletivo e comprometimento com a aprendizagem e inclusão”, conclui.

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